Minhas ideias

Amor incondicional ou perdão condicional?

Eder Cachoeira
Escrito por Eder Cachoeira em 11 de junho de 2016

Certamente você já disse ou ouviu algumas destas frases:
– Seja o que Deus quiser;
– Deus sabe o que faz;
– Se fizer isso, Deus vai castigar você;
– Se você não perdoar seu irmão, Deus não vai lhe perdoar.

Pense comigo: Se o Deus que você acredita é capaz de fazer alguém sofrer, de castigar, de não perdoar, ou exige que você se sacrifique por ele, então ele não é Deus. Em outras palavras, se ele não é a mais pura representação do amor perfeito, do amor incondicional, do amor ágape, ele não é Deus. Ele é como você: imperfeito.
Já ouvi muito gente falar, quando está passando por alguma situação difícil: – Seja o que Deus quiser. Ele sabe o que faz.
Diante desta afirmação, a pessoa está considerando que Deus tem responsabilidade pelo sofrimento de alguém, ou pelas situações tristes que acontecem em nossas vidas.
Pense comigo novamente: Se você sente amor incondicional por alguma pessoa, nunca existirá a necessidade de perdoá-la ou castigá-la, porque seu amor é incondicional e, por isso não há julgamento, não há condenação, não há absolvição, não há ofensa e nem qualquer sentimento que não seja o amor puro.
Se você sente o amor incondicional, tudo deveria se resumir ao fluxo contínuo da vida e do amor, sem interrupções, sem julgamentos, sem objeções, sem dúvidas sobre perdoar ou castigar.
”Certa vez, perguntaram a Mahatma Gandhi se ele perdoava com muita frequência, e ele respondeu: ‘Não, nunca preciso perdoar, porque ninguém nunca me ofendeu’.
Você só precisa perdoar quando se magoa ou se sente ofendido. Quando vencer estas situações, perceberá que não há mais necessidade tão frequente de perdão.
Aprendendo a não sentir mágoa e a não se sentir ofendido com tanta frequência, você precisará perdoar menos, e isso equivale a ter aprendido a verdadeira humildade e o caminho para o amor incondicional” (Hilsdorf, Saiba por que perdoar traz bem-estar e faz bem à saúde).

A necessidade de perdoar só vai existir se você sentir-se ofendido com a ação de uma pessoa. E isto acontece quando seu amor é condicional: se a ação do outro não me agradar, então vou me ofender. Se ele pedir desculpas, então vou perdoá-lo. Isto é condição, não é amor incondicional.

O mesmo argumento cabe para a imposição de que o outro se arrependa do que fez, primeiro, para depois ser perdoado. Isto também é uma condição, e não é amor incondicional. Não é o amor de Deus.
O fato de você arrepender-se de alguma ação não muda nada a vida de quem foi prejudicado com aquela atitude. Arrisco a dizer que não muda nada para Deus, se você arrependeu-se do que fez.

O que realmente muda a vida das pessoas, e imagino que deve ser considerado por Deus, é você não repetir o mesmo erro e procurar fazer o bem para o seu semelhante. Isto é o que importa. Se você está arrependido ou não, na prática, é indiferente. É irrelevante.

Será que Deus, na sua perfeição, negaria o reino dos céus para um de seus filhos? Será que ele colocaria (ou colocará) uma condição para aceitar e amar você?
Vamos trazer o conceito para o nosso cotidiano e falar do que você sente pelo seu semelhante.
Responda à seguinte pergunta: Você ama realmente a pessoa que está com você, e esta pessoa ama você de verdade?
Se a demonstração efetiva do seu amor por outra pessoa depende da conveniência da situação, você não a ama de verdade, se é que podemos classificar o amor como amor de verdade e amor de mentira.
Por exemplo, você está em uma relação (seja amorosa, afetiva, familiar, profissional ou qualquer outro tipo de relação próxima) com outra pessoa e acha que vocês se amam de verdade, só que vocês não se entendem em vários pontos, e isso gera discussões, brigas, tristeza e outros malefícios para ambos, então não podemos dizer que é um amor incondicional.
Obviamente, viver em atrito com alguém não é nada saudável e, desta forma, por mais que você defenda que vive perto daquela pessoa porque a ama, isto não é verdade. O amor verdadeiro é livre de qualquer tipo de condição, como falei anteriormente.
Talvez você esteja confundindo amor com conveniência, e isto está gerando frustrações e tristeza para você e para a pessoa que está com você.

Se engana, mente, trai, ilude, condena, agride, cobra, chantageia, corrompe, ou muda seu comportamento e suas opiniões sobre a outra pessoa, dependendo da situação, você não ama. Ou, o que você chama de amor, é simplesmente um sentimento condicional.

Claro que não quero pregar a perfeição, e muito menos dizer que você só deve estar com alguém se for para viver em um mar de rosas. Isso não existe. Porém, o ponto que chamo a atenção é justamente para o amor que você sente pelo outro, ou melhor, para o amor que pensa que sente pelo outro.
Se você faz juras de amor e de cumplicidade para uma pessoa enquanto as coisas estão indo bem, não deveria, de forma alguma, ofendê-la, magoá-la ou traí-la, mesmo que ela te ofenda, te magoe ou até mesmo traia a sua confiança. Caso contrário, a credibilidade das suas declarações de amor foram por água abaixo. As suas juras foram apenas por conveniência, e o seu amor é condicional.

Partindo do pressuposto de que o amor é realmente incondicional, se você diz que ama uma pessoa, este amor deve durar para sempre, se não, não era amor. Era apenas uma condição para satisfazer suas necessidades momentâneas.

Talvez, neste momento, você esteja duvidando dos seus sentimentos em relação a determinadas pessoas que fazem parte da sua vida. Talvez você esteja certificando-se de que os sentimentos em relação a outras pessoas que são próximas a você realmente são verdadeiros, que é amor incondicional.
Se ainda não é capaz de fazer este exame de consciência, basta se perguntar: o amor (amizade, carinho, cumplicidade, companheirismo) que sinto por aquela pessoa é incondicional ou é condicional? Mantenho uma relação com esta pessoa porque a amo incondicionalmente ou porque é conveniente, para mim, estar com ela?
A reflexão acima serve para não mais compararmos o que nós somos capazes de fazer e sentir com o que o Deus que acreditamos é capaz de fazer e sentir. Ele não diz que ama você hoje, e amanhã castiga porque você pecou. Quem ama incondicionalmente nunca castiga, nunca precisa perdoar, nunca duvida.
Para amar incondicionalmente é preciso considerar que diferentes tipos de pessoas podem ser amadas da mesma forma, e não só as que nos convêm. Não deve haver distinção de sexo, cor, religião, idade, classe social, nível intelectual, opção sexual, crenças, e outras classificações impostas pela humanidade aos menos ou mais favorecidos.

O medo que a maioria das religiões quer que você sinta de Deus foi criado por elas, e não por Deus. Jesus Cristo veio ao mundo, enviado por seu pai, para salvar a humanidade de males que ela mesma criou.

Como as religiões não conseguem se igualar a Deus, não conseguem ser perfeitas, do ponto de vista da benignidade, elas querem, então, fazer Deus igual a elas, ou melhor, querem que Deus seja igual ao homem, que seja capaz de punir, de negar, de julgar, de perdoar ou não, ou seja, de condicionar o amor divino.
O Deus que eu acredito é puro e bom, é perfeito, nunca castiga, nunca precisa perdoar, nunca duvida, e não pode ser comparado a um de nós, simplesmente porque não é um de nós. Ele é superior, livre de pecado e não julga ou pune as pessoas: simplesmente as ama incondicionalmente.

Obviamente isto não significa que você não irá sofrer as consequências das suas atitudes aqui, no plano terrestre. Mas o castigo pelas coisas que você faz, contrárias ao que as pessoas acreditam ser o certo, vem do seu semelhante, e não de Deus.

Quando você pensar no seu Deus, referir-se a ele ou invocá-lo, aplique o teste do amor incondicional, liberte-se do fantasma do perdão condicional, pratique o bem e seja feliz.

Olá,

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